No meio da partida de futebol, na quadra de um prédio da zona sul da capital paulista, o morador soltou um rotundo "filho da puta".
Vizinhos reclamaram com o zelador, que repassou à administradora, que, depois de confirmar a cena pelo circuito interno do prédio, multou o boleiro em cerca de R$ 600 -valor de um condomínio.
"Os vizinhos já são obrigados a ouvir a gritaria do jogo, não precisam ouvir palavrão também. Principalmente as crianças", diz Silvia Carreira, sócia do Grupo Light, que administra aquele prédio.
O morador, que não foi identificado, recorreu à Justiça alegando que não disse nada impróprio. Pediu ainda indenização por danos morais de R$ 3.500. O processo está tramitando.
Do total de 7.380 multas e advertências aplicadas pelo Grupo Light em 2010, 2.287 (31%) foram pelo mau uso das quadras esportivas -questão que só perde para o uso indevido de garagens.
Em 2010, foram 299 multas e advertências aplicadas por conta de palavrões.
Segundo Silvia, a maioria dos 149 condomínios administrados por sua empresa já adotou a norma de multar o morador "boca-suja". A mudança no regimento interno passa por assembleia.
Foi o que aconteceu num condomínio no Tatuapé inaugurado há três anos. Desde a convenção, já estava prevista a proibição das palavras de baixo calão -tanto nas quadras quanto dos torcedores exaltados, que gritam à janela em dia de jogo. Neste ano, foram aplicadas quatro multas.
A última, em abril, custou R$ 380 ao jogador que lascou um "vai tomar no ..." no meio da pelada. Ele foi advertido verbalmente, por escrito e, por fim, depois de repetir o xingamento pela terceira vez, teve que pagar.
As câmeras do prédio não registram áudio, então, quando há queixa, um segurança observa o jogo e é ele que testemunha contra o infrator. "Quando dói no bolso, o problema se resolve", diz o síndico, Antônio Gleyton.
Mas há quem ache a multa uma punição rigorosa demais. O advogado Fernando Zito, 31, morador do Jaguaré, já foi síndico do prédio e chegou a multar um garoto de 16 anos, mas hoje defende a conscientização. "Quando você está no futebol, é aquela gritaria, você xinga mesmo."
Maria Letícia Nascimento, professora da Faculdade de Educação da USP, acha a multa um exagero.
"É um exagero de cuidado e de controle. A gente não pode impedir que essas coisas todas façam parte do cotidiano das crianças, porque elas ouvem palavrão em casa, na TV, em todo lugar. A gente não tem controle, quer faça mal ou não", afirma.
Autor: Folha de S. Paulo
Fonte: Licita Mais Condomínios
Obs.: Os textos aqui apresentados s?o extra?dos das fontes citadas em cada mat?ria, cabendo ?s fontes apresentadas o cr?dito pelas mesmas.