Para boa parte das pessoas, o incorporador imobiliário é um pecador. E um dos temas que têm motivado verdadeiro apedrejamento de nosso mercado é o trânsito.
Em 1970, São Paulo tinha 14 mil quilômetros de ruas e 900 mil carros; hoje, são 17 mil quilômetros de ruas e 7 milhões de carros. Não seria isso o verdadeiro polo gerador de tráfego?
Convivemos com uma lógica perversa. O setor imobiliário é culpado por construir empreendimentos ocupados por pessoas que têm carro, porque o imóvel fica longe do emprego e o transporte público é insuficiente. Porém, o fato é que os prédios têm vagas de estacionamento porque existem carros, não são os carros que surgem porque existem vagas.
Há anos que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) analisa os empreendimentos e define se eles são polos geradores de tráfego. Em caso positivo, as empresas devem realizar contrapartidas para atenuar impactos na malha viária.
Antes, as obras eram razoáveis: uma pista de desaceleração, um semáforo etc. Hoje, porém, a situação está subjetiva e incontrolável. Os empresários têm de fazer pontes e viadutos. Não é mais possível antever qual será a contrapartida. Daqui a pouco estaremos construindo metrô!
Detalhe: como as obras têm de ser aprovadas ou até feitas pelo poder público, e este atrasa, o empreendimento não recebe “habite-se”. O mercado faz a sua parte, mas a burocracia emperra tudo. Curioso é que o setor imobiliário é o único obrigado a oferecer contrapartida. Ninguém cogitou em pedir isso para a indústria automobilística...
Não existem dados oficiais disponíveis para que se possa dimensionar, em valores, o volume de contrapartidas já destinado pelo mercado à cidade em relação à CET. Mas a pergunta que ninguém faz é: e se não houvesse vaga de estacionamento? Como seria o trânsito com os milhões de automóveis que circulam na Capital parados na rua?
Os shopping centers oferecem mais de 5 mil vagas. E se eles não existissem? Como seria o comércio da cidade? Os carros estariam empilhados? Alguém já imaginou o que seria do paulistano sem a “praia” do shopping center? E o que dizer da falta de segurança pública?
O que poucos sabem é que a lei obriga a execução de determinado número mínimo de vagas por metro quadrado construído em imóveis residenciais e comerciais. O prédio pode estar na boca do metrô, mas a lei obriga. Por que um mínimo de vagas por m2 construído, e não um máximo permitido de vagas? Alguém precisa começar a fazer essas perguntas, pois o setor imobiliário não pode continuar responsável por todas as respostas.
A solução efetiva exige planejamento urbano adequado, que passa pela revisão de leis anacrônicas e por um choque de eficiência e modernidade no transporte público. E isso é responsabilidade do poder público, pressionado pela sociedade.
No último feriado, a população paulistana enfrentou mais de 200 quilômetros de congestionamento. E, pasmem, não havia nenhum prédio construído no meio das estradas... Não demora e polo gerador de tráfego vai ser o direito de ir e vir!
Walter Lafemina é ex-presidente do Secovi-SP
Autor: Secovi SP
Fonte: Secovi SP
Obs.: Os textos aqui apresentados s?o extra?dos das fontes citadas em cada mat?ria, cabendo ?s fontes apresentadas o cr?dito pelas mesmas.