Entrar, furtar várias residências - provavelmente nove - e sair sem ser avistado de um local que mantém segurança composta por alarmes, cercas elétricas e de arame farpado, câmeras de monitoramento, muros altos e rondas periódicas. Foi essa a missão bem executada por bandidos na noite do último sábado, no Tívoli 1, condomínio de luxo na zona sul de Bauru. E, para conseguir a ousada proeza, as investigações garantem que os homens estavam munidos de informações privilegiadas.
Os furtos em série no condomínio fechado localizado na avenida José Vicente Aiello ocorreram entre as 20h30 do sábado e a meia-noite. Na ocasião, cerca de dois ou três homens - segundo hipóteses policiais - puxaram a cerca de arame farpado que fica sobre o muro e adentraram pela lateral da propriedade, que fica bem ao lado de uma mata densa.
Por onde passavam , os bandidos foram invadindo as residências, que estavam vazias, e furtando vários objetos. Entre o que foi levado estavam grandes quantias em dinheiro, aparelhos eletrônicos como notebooks e celulares, joias, talões de cheque e até mesmo algumas armas.
Todas as informações foram levantadas pela reportagem do JC no local dos fatos e em entrevistas com autoridades ao longo do dia, uma vez que, provavelmente a pedido dos moradores do condomínio, os boletins de ocorrência não foram liberados à imprensa pela polícia, fato que pode vir a ocorrer amanhã.
De acordo com o que foi apurado, os moradores de todos os imóveis estavam ausentes no momento da ação. A maioria estava viajando e outros ficaram fora durante cerca de uma hora apenas. Tal exatidão em onde agir denota que os bandidos tinham informações privilegiadas.
Outro fato que leva a essa conclusão é que, além do arame farpado, toda a cerca é composta por sensores de alarme. Segundo informações extraoficiais, o sensor não estava funcionando exatamente no segmento que serviu como ponto de acesso aos criminosos. Ou os bandidos sabiam desse fato, ou fizeram vários testes para descobrir um ponto frágil da segurança.
A hipótese de que os ladrões estavam munidos de informações sobre como e onde agir foi confirmada pelo titular da Delegacia Seccional de Bauru, Benedito Antônio Valencise. “Com certeza, eles sabiam o que estavam fazendo. Sabemos que houve uma facilidade total para a execução de toda a ação. É muito claro que eles tiveram informações privilegiadas”.
Desse modo, as investigações partem exatamente dessa vertente. “Iremos ouvir pessoas que moram no condomínio, funcionários e até ex-funcionários. Nós vamos investigar de onde saiu essa informação privilegiada que foi usada pelos bandidos”, aponta Valencise.
Sistema de segurança
Na maioria das residências invadidas, os ladrões adentraram pelos fundos, justamente por não encontrar grandes dificuldades em abrir portas e janelas dos imóveis . As imagens das câmeras de segurança serão cedidas à Polícia Civil, porém, segundo informações não oficiais levantadas pela reportagem, a rota de acesso dos bandidos não estava coberta pelo monitoramento.
Outro ponto digno de questionamento é a ronda periódica realizada no local. Segundo moradores que não quiseram se identificar, os vigilantes do Tívoli 1 chegam a percorrer de carro aproximadamente 80 quilômetros no interior do condomínio.
Entretanto, mesmo com essa longa fiscalização, os bandidos não foram avistados quando atravessaram a via que corta o condomínio para efetuar alguns dos furtos. O caso somente veio à tona quando uma das vítimas chegou à sua residência, pouco depois da meia-noite.
Além disso, o local possui, no portão principal, porteiros que, em turnos revezados, trabalham 24 horas diárias e duas cancelas, por onde entram e saem os moradores devidamente identificados. A Polícia Científica foi acionada e realizou a perícia no local dos fatos.
Silêncio
Com os furtos em série, o sentimento de segurança que imperava no Tívoli 1 se transformou em medo e silêncio junto aos moradores do local. Na tarde de ontem, a reportagem esteve em frente à propriedade, porém, nenhum morador que entrava ou saía do condomínio aceitou conceder entrevista.
Uma senhora, que trabalha há 22 anos com uma família que mora no local, disse que está orientada a manter sigilo sobre o que aconteceu. “Ninguém está podendo falar nada até a polícia descobrir quem fez isso. As orientações foram pedidas pelo pessoal do condomínio. Eu trabalho aqui desde o início e nunca vi nada parecido”, disse a mulher, que teve a identidade preservada. Outra moradora, que também não quis se identificar, questionou o fato de o alarme não estar funcionando. “Há seis meses, houve uma reformulação total nos alarmes de segurança. Questionei o motivo de não ter funcionado e ninguém me respondeu.”
Outros moradores preferiram se manter em silêncio. Conforme apurado pela reportagem, será feita uma reunião com os condôminos para discutir o fato e ainda apontar possíveis melhorias na segurança.
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PM alerta sobre segurança no fundo da casa
Mesmo em locais que possuem sistemas de segurança particulares e reforçados, a população não deve se descuidar. Apesar de alarmes, muros altos e outros sistemas de monitoramento serem importantes, a segurança não é integralmente garantida.
Segundo o tenente-coronel Nelson Garcia Filho, comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4º BPMI), é preciso tomar alguns cuidados para que os bandidos não enxerguem os imóveis como potenciais alvos.
“Sempre que você vai viajar, o ideal é avisar os vizinhos. Assim, eles ficam atentos e, se detectarem algo suspeito, podem acionar a polícia para verificar. Em algumas das residências furtadas no Tívoli 1, isso não tinha sido feito e facilitou a ação dos bandidos”, aponta.
Outra lição importante retirada do fato foi a questão das entradas na parte traseira dos imóveis. “Na maioria das vezes, o ladrão invade pelos fundos, justamente por não correr o risco de ser visto. Então, as pessoas têm que reforçar esses pontos com cadeados e até mesmo madeiras em portas e janelas. Independente do padrão da casa, isso deve ser feito. É algo fundamental”, aconselha.
Além disso, os moradores precisam conhecer os funcionários do condomínio e as respectivas alterações. “As pessoas devem estar atentas também quando há substituição dos porteiros. Os porteiros devem conhecer quem são os moradores e vice-versa”, acrescenta Garcia.
Pensando nisso, o tenente-coronel garante que, em breve, a PM fará uma palestra discutir o tema nos condomínios e passar essas noções básicas aos moradores, síndicos e também funcionários particulares que trabalham com a segurança do local. “Irei solicitar essa reunião para ampliar a prevenção e evitar casos como esse”, conclui.
Outros casos
Apesar de assustar os moradores e demonstrar a fragilidade presente até mesmo em lugares com fortes esquemas de segurança, o caso do Tívoli 1 não é inédito em Bauru. Diversos outros condomínios fechados já foram alvos dos bandidos. Segundo levantamento do JC, a onda de maior frequência nesse tipo de crime ocorreu em 2008.
O caso mais marcante foi no residencial Shangri-Lá, no Jardim Solange. No crime, ocorrido em dezembro de 2008, dez homens em motocicletas e armados invadiram o condomínio, renderam funcionários e invadiram uma casa. No imóvel, fizeram uma família refém e levaram joias, aparelhos eletrônicos e R$ 30 mil.
Na ocasião, 15 dias antes do crime, o JC havia noticiado que, mesmo com toda a segurança, os condomínios não eram 100% seguros. Levantamento extraoficial apontava 15 casos de furtos em residenciais da zona sul de Bauru.
Em todos os casos, a ousadia e o planejamento dos ladrões espantavam. Em um dos furtos, os assaltantes entraram pela tubulação da propriedade. Já em outro crime, que felizmente foi coibido, um grupo tentou quebrar um dos muros que envolvia a propriedade para adentrar ao local.
Na mesma onda de crimes, furto semelhante ao caso do fim de semana no Tívoli 1 foi registrado no Residencial Jardim Colonial.
Número de casas furtadas deve chegar a 9
Até o fechamento desta edição, havia a confirmação de que sete propriedades do Tívoli 1 foram furtadas na ação criminosa. Porém, outras duas, que também estavam na rota percorrida pelos bandidos, provavelmente foram alvos dos crimes.
O número oficial deve ser confirmado hoje ou amanhã, com a chegada dos donos às respectivas residências. Assim como os moradores desses dois imóveis ainda não registrados, por conta do feriado de Carnaval e das viagens na data, as casas invadidas pelos bandidos no condomínio estavam vazias, o que era sabido por eles.
Por conta disso, a reportagem não conseguiu entrar em contato com quaisquer vítimas. Outra informação que também não foi divulgada oficialmente é a quantidade e o valor dos objetos que foram levados pelos criminosos.
Autor: JC Net
Fonte: Síndico Net
Obs.: Os textos aqui apresentados s?o extra?dos das fontes citadas em cada mat?ria, cabendo ?s fontes apresentadas o cr?dito pelas mesmas.