O Brasil vive um momento de bonança no mercado imobiliário, mas nem assim, o trabalhador de baixa renda tem conseguido adquirir o imóvel. Estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as famílias que gastam com aluguel comprometem quase o dobro do orçamento do que aquelas que financiam imóveis.
Com base nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009, o instituto mostrou também que, em média, o brasileiro destina 12% da renda familiar para o aluguel. Já as despesas com a prestação da casa própria representam 7% do orçamento de quem financia. (Veja quadro ao lado)
O presidente da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi), Ariano Cavalcanti de Paula, explicou que sempre haverá mercado para o aluguel. "Em países desenvolvidos existe uma média de 16% do total de habitações que são alugadas", informou.
O fenômeno, para Cavalcanti, pode estar amparado em pessoas que estão juntando dinheiro para comprar um imóvel, outras resistem em imobilizar o dinheiro num imóvel por razões diversas e pessoas em trânsito, ou seja, morando fora da cidade delas. "Por mais que se desenvolva o mercado imobiliário e por mais que diminua o déficit habitacional, o aluguel vai existir", afirmou.
A pesquisa do Ipea confirmou a tendência ao aluguel. De 2002 a 2008, o percentual de famílias que pagam aluguel subiu de 12,9% para 17% dos domicílios.
E mais, por renda, entre os 5% mais ricos, 16,5% compraram imóveis no período da pesquisa, enquanto entre os 25% mais pobres, o percentual de famílias que compraram imóveis ficou em 1,5%.
O pesquisador do Ipea, Pedro Carvalho, afirmou que hoje é mais barato financiar do que alugar um imóvel. "Nos contratos de financiamento há uma proteção maior contra a especulação imobiliária", argumentou.
Mas Ariano Cavalcanti considera que o mercado imobiliário ainda tem que vencer o déficit habitacional. "Foram 627 mil unidades financiadas em 1980 no Brasil. Essa marca só foi repetida 29 anos depois em 2009. O país cresce agora, mas passamos por três décadas praticamente sem financiamento", explicou.
Transporte tirou 4,2% da renda
Cerca de 32% das famílias, de acordo com o Ipea, utilizam o transporte público urbano. Da renda familiar dessas pessoas, 4,2% são gastos com esse item. A despesa com ônibus intermunicipais caiu de 10,4% para 7,2% no comparativo entre as pesquisas do orçamento familiar 2002/2003 e 2008/2009.
O transporte pirata foi utilizado por 5,1% das famílias que comprometeram 3,5% de sua renda com eles. O uso do táxi aumentou de 2,8% para 3,4% das famílias e representou cerca de 2,7%
dos seus rendimentos.